Conto: Culpa Oculta

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Culpa oculta

Era uma tarde ensolarada que podia ser comum em minha vida, a não ser pelo detalhe de que o lugar era aquele que eu estava.
Acima de mim eu vi um telhado quebrado. E então entendi o porquê do meu corpo doer tanto. Eu havia caído naquela casa.
Levantei-me e segui à porta. Pude ver um vilarejo com poucas casas, mas não vi nenhum ser vivo por perto.
No centro do vilarejo havia uma pequena capela com a porta aberta que discretamente me convidava a entrar. Passei pela porta e rapidamente eu comecei a sentir um forte medo. A cada passo que eu dava mais o medo aumentava tornando-se insuportável ficar naquele lugar. “Tem alguém aí?” – eu perguntei, mas ninguém respondeu.

Fora da capela tudo estava como antes, mas o medo que eu estava sentido desapareceu por completo. Visualizei cada parte possível do vilarejo até encontrar um cemitério incomum para mim, pois para um pequeno vilarejo o cemitério possuía muitos túmulos.
O vilarejo era cercado por uma floresta e tinha apenas uma estrada que dava acesso a ela. Fui em direção a estrada, mas quando tentei passar por ela um grande cachorro pulou em minha frente e me encarou. Dei um passo para frente e o mesmo mostrou-me os seus dentes. “O que está acontecendo? Antes esse lugar estava deserto!”-eu pensei.
Encarei o cachorro novamente e corri floresta adentro. De longe eu escutava um uivo. Corri durante alguns minutos até chegar a um lugar onde passava um rio e mais a diante havia uma cachoeira. Segui à pedra próxima a queda d’água e pude ver um pouco distante o vilarejo. Desci para uma pedra mais abaixo e decidi beber um pouco de água. Então o reflexo da água me mostrou a verdade. Os meus olhos não eram normais, eles estavam totalmente negros. Tomei um susto com o que vi e dei um grito.
− Por aqui! – disse uma voz masculina.
− Ele está perto. Corram! – outra voz fluiu.
− Aquele monstro sofrerá por tudo que causou a nossa família. – a primeira voz replicou.
E lá estavam eles. No meu lado direito eu vi três homens olhando em minha direção. Cada olhar que vinha até mim era como um fogo que queimava minha alma. Eles estavam enfurecidos. Um dos homens correu em minha direção armado com uma adaga. Tentei fugir, mas estava difícil correr. A dor no corpo era muito forte e eu já havia corrido para fugir do cachorro. O homem estava a menos de um metro de mim. Eu pude sentir aquela lâmina entrando em meu abdômen. A dor foi imediata. Consegui saltar para cima da pedra próxima da queda d’água.
− Você está louco? Para que esse fim? – eu perguntei sem entender o motivo daquilo tudo.
− Julga-se inocente depois de tudo que fez? – perguntou o homem que havia me atacado.
− Sim. Não cometi mal algum. – eu disse com convicção, pois nada lembrava sobre o que ele dizia.
− Basta! Como ousa zombar da memória daqueles que você sugou a vida? Nossas famílias e amigos foram assassinados por você. – o homem deu um passo à frente.
Para minha defesa eu dei um passo para trás e escorreguei na pedra. Segurei-me em um arbusto. Estava difícil manter-me seguro e aos poucos minhas mãos perdiam forças. Implorei por ajuda. O homem continuou onde estava. Ele estava aliviado por aquilo. Não agüentei e soltei o arbusto. Escutei apenas o grito daquele homem dizendo: “Morra filho das sombras”. 
Percebi minha culpa. Eu havia recordado tudo. Eu não era inocente... Na verdade eu era o culpado. Só não conseguia ver. Estava cego pelo medo. O mesmo medo sentido por aqueles que morreram por minha causa. O medo da perseguição.

Mais um conto feito por mim. Espero que tenham gostado.
Até a próxima.


2 comentários

  1. Parabens! Voce escreve muito bem.
    Gostei bastante do seu conto.

    bjs.

    http://booksandmuchmore.blogspot.com

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  2. Oiie...
    Parabéns, belas palavras ^^
    Beijos
    Bruna-Livros de Cabeceira

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